Scheveningen

Scheveningen é uma praia em Haia, na Holanda. 
No verão ela fica lotada de gente. A praia tem uma longa faixa de areia, um calçadão e um píer. Os holandeses adoram.
Curioso é pronunciar esse nome, Scheveningen.

Como toda língua o Holandês tem fonemas muito peculiares e difíceis de pronunciar para quem tem outra língua materna. Há por exemplo alguns tipos de sons de "erres" que só consegue falar quem aprendeu a língua desde pequeno, nativamente. 
São “erres” difíceis de pronunciar como alguns do Alemão e do Árabe; são daquele tipo de fonemas específicos de cada língua têm, como o "ão" do nosso Português.

O problema em pronunciar esses fonemas únicos das línguas é estritamente fisiológico e está relacionado às cordas vocais. Ou você as exercita quando criança ou então determinadas “notas” dificilmente serão emitidas na idade adulta.
É só isso, não tem nada de racial. É “musculação” das cordas. Ponto. 

No caso de Scheveningen a palavra tem uma tipo de "erre" pronunciado na segunda silaba, ali na altura do "h", com uma sonoridade que só existe em Holandês. Estas sonoridades do Holandês são tão especiais e "difíceis" que os ingleses chamam a língua de Double-Dutch. 
Em Alemão há algo parecido, mas não é exatamente igual. Mesmo com todos aqueles vários sons de "erres" e mesmo sendo uma língua parecida, os alemães não conseguem pronunciar o nome desta praia.
Só mesmo um holandês consegue falar Scheveningen. 

Quando as tropas nazistas invadiram a Holanda durante a II Guerra elas foram particularmente brutais, ainda mais do que quando ocuparam outros países europeus. 
Os Holandeses resistiram bravamente e pagaram um preço alto. Por isso quando a França se rendeu tão facilmente surgiu na Europa a piada:
- Sabe quantos franceses são necessários para defender Paris? Ninguém sabe, eles nunca tentaram. 

Uma das primeiras coisas que os nazis fizeram ao invadir a Holanda foi apreender todas as bicicletas, este ícone nacional holandês. Os alemães se apossaram de todas elas para quebrar a mobilidade, o moral e a resistência da população. 
Os holandeses nunca perdoaram. 
Ainda hoje se um turista alemão pede uma informação, alguns holandeses ainda respondem: 
- Onde está minha bicicleta? 
Se um alemão pede alguma orientação na rua eles apontam na direção da fronteira, 
- Vá por ali. 

Boa parte dos alemães fala holandês e praticamente todo holandês fala alemão. 
Quando finalmente a II Guerra terminou os holandeses começaram a caçar os nazis que ainda estavam no país. Como muitos soldados alemães falavam holandês eles tiravam os uniformes e se passavam por civis. 
Os nazis estavam se misturando na população e escapando. Mas os holandeses descobriram uma maneira infalível de identificá-los. E executá-los. 
Com uma arma apontada na cabeça do suspeito, o dedo apertando o gatilho eles ordenavam, 
- Fale Scheveningen. 

Quando trabalhei na Alemanha um grupo de técnicos, alemães, de nossa fabrica estava fazendo um treinamento de algumas semanas na ODME, nosso fornecedor de equipamentos, em Eindhoven na Holanda. 
Fui visitá-los para acompanhar e avaliar o aproveitamento deles. Terminada a semana de trabalho combinamos passear todos juntos e contratei um guia de turismo para nos mostrar um pouco do país. 

O guia holandês, muito simpático e informado, mostrava tudo com competência. 
Quando chegamos em Scheveningen esperei o grupo de alemães estar todo reunido em torno do guia e de mim. Apontei uma placa com o nome da cidade e pedi: 
- Por favor, vocês podem ler este nome para mim? 
Todos leram.

Olhei para o guia e ri. Ele se afastou para rir melhor.