Frui Tempore Carnival

É época de Carnaval.
Independente de crença, ideologia ou religião vivemos imersos e somos em última análise produto da cultura judaico-cristã.
Não consigo fugir de certas reflexões.
Mitologicamente falando, sem entrar em considerações sobre a sua veracidade mesmo por que culturalmente não faz diferença, vivemos em um universo criado por um ser originalmente ocioso.
Vivia ele numa eternidade imensa sem fazer nada. E no escuro.
Um dia ele desperta de sua preguiça e em toda sua energia diz Faça-se a Luz.
E aí numa seqüência compulsiva saiu criando e criando; criando Tudo. Criou o universo e todas as coisas que nele há, e nesta pressa também nos criou. Mas ocioso como era, em menos de uma semana cansou-se e descansou.
Estava criado o Universo.

E ele por aí ficou, até que um dia foi tomado de uma grande ira. Note que esse é o primeiro sentimento de que se tem notícia, sempre mitologicamente falando é claro.
E por que? Por que foi desobedecido.
Um ser inflexível.

Hoje é Carnaval.
Vivemos na era da Informação e sabemos que quanto mais ela se propaga maiores são os benefícios. 
Os tempos negros da humanidade foram os períodos em que o Conhecimento era guardado como segredo.
Aquela ira do criador foi desencadeada quando seus filhos se voltaram para a arvore do conhecimento. Ele os queria manter na ignorância, um Ser portanto politicamente incorretíssimo. 
Seus filhos eram ignorantes, ociosos como o pai e como ele mesmo afirmou, sem nenhuma vergonha. E ainda por cima viviam nus.
Nesta ira onipotente ele os castigou com a Dor, o Pecado, a Vergonha e como supremo castigo determinou que a partir dali ganhariam o pão com o suor do próprio rosto.
O Trabalho é portanto o supremo castigo de deus.
Estava criado o Mundo.

Estreitando o foco, pois já temos criados primeiro o universo e o mundo, falta agora refletir sobre a criação desta nação.
Essa em que vivemos, que nos criou e moldou nasceu num momento de distúrbio intestinal de um príncipe estrangeiro, devasso e irresponsável.
Uma nação que se declarou como independente literalmente no grito. E pior, durante uma dor de barriga às margens de um riacho.
Uma independência que, aliás, só se consumou quase um ano depois, e por uma incompetência.
Lutando contra o colonizador as forças nacionais venceram a ultima batalha quando por falta de um corneteiro que tocasse a ordem de “cessar fogo e debandar”, um substituto que só conhecia um único toque disparou de sua corneta o toque de “avançar e degolar”.
O inimigo assustado com tanta disposição e concluindo que ela só poderia ser fruto da chegada de novos reforços fugiu e se rendeu.
A ultima batalha, a batalha definitiva da luta pela independência foi vencida por engano e pela incompetência de um substituto.
Estava criado este País.

Agora é Carnaval.
Pensando no processo de criação do universo, do mundo e do país em que vivemos é preciso concluir alguma coisa.
O primeiro nascido como fruto do ócio de seu criador, o segundo feito para castigar os homens com o trabalho e o terceiro nascido de uma inconseqüência.
Ócio, preguiça, intolerância, nudez, pecado, horror ao trabalho, devassidão e inconseqüência.
Refletindo sobre estas coisas enormes o Carnaval só pode ser a conseqüência de tamanhas irresponsabilidades.
Está criado o Clima. Perfeito para uma festa fantástica.