O julgamento do antigo oligarca Mikhail Khodorkovski condenado na segunda-feira dia 10.01.11 foi o mais importante da Rússia pós-soviética.
Mais uma vez ficou evidente a influencia e o poder de Vladimir Putin e foi um teste ao presidente Dimitri Medvedev que parece impotente para impor sua agenda de modernização e primado da lei.
Muitos se perguntam o quanto Putin seria um czar moderno.
Mesmo num regime aparentemente democrático ele nomeou seu sucessor, se impôs como primeiro ministro e continua mandando no país.
Não é à toa que num dos telegramas da diplomacia americana vazado pelo Wikileaks a dupla é chamada de Batman e Robin. Uma forma bem humorada de se referir a quem manda de verdade.
Se surpreender e se perguntar se Putin reina como um czar moderno é ingenuidade e desconhecimento da nação e do povo russo.
É muito fácil se generalizar o entendimento dos povos e olha-los todos pelo mesmo prisma.
Não atentar para as particularidades nacionais leva a enormes erros de avaliação e é muito perigoso se alguma análise estratégica estiver envolvida.
Putin seria um czar moderno ou um ex-dirigente da KGB que sabe tudo sobre todos e representa a oligarquia pseudodemocrática que assumiu o vácuo de poder deixado pela URSS?
Se a Rússia abraçou a democracia parlamentar e representativa como então haveria lugar para um líder autocrático?
A pergunta é mal feita por que parte de um pressuposto que não é verdadeiro.
E finalmente: haveria lugar para uma democracia moderna e liberal na Mãe Rússia?
Putin reina como um czar moderno dentro de um regime democrático. Os Czares exerciam o poder autocrático num sistema imperial. Stalin, um czar vermelho, os sucedeu e agiu de forma semelhante num regime comunista.
Três regimes completamente diferentes. Três posturas idênticas. Quem os legitima?
A alma, o povo russo.
A noção de nacionalidade é extremamente poderosa para um russo.
A terra sagrada, a Mãe Rússia, é um componente popular, informal e populista da sagrada russidade e não corresponde à noção de nação moderna tal como a conhecemos.
Durante o assalto de Azov, na metade do século XVII, os cossacos sitiados pelos turcos cantavam que “nunca mais estaremos na Sagrada Rússia novamente...morreremos por seus ícones milagrosos, pela fé cristã, em nome do Czar e por todo o Estado moscovita”.
Na Rússia a noção de nacionalidade está secularmente fundamentada nos ícones, no governante supremo e no estado.
Rus, a terra sagrada, e o ser russky não se relacionam com a etnicidade, a língua ou a uma ideologia política.
A identificação nacional é formulada pelos ícones, pela fé e pela figura de um chefe. Um pai supremo.
Esta figura do grande pai é intrínseca na russidade. É a figura do déspota oriental.
Não há Mãe Rússia sem um pai onipotente. Seja ele um Czar, um primeiro-secretário do partido ou um presidente eleito.
As noções de nacionalidade variam muito.
O conceito moderno de nacionalidade é o resultado da Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa. Esta é a noção de Nação Consentida que se legitima pela opção deliberada de seus potenciais cidadãos. Este conceito revolucionário de nação é certamente a maior contribuição francesa à História e resultou na formação da maioria dos estados modernos.
Mas não da Rússia.
Esta noção de nação consentida se firmou principalmente na formação dos países novos da América e da Oceania onde inclusive não se segue o jus sanguinis.
Nestes países o conceito de nação e cidadania independe de raça, cor, religião, etnicidade e mesmo de língua. E de forma ainda mais radical, por exemplo, nos Estados Unidos e no Brasil.
Americanos e brasileiros são aqueles que desejam sê-lo.
Aqui se vive o sonho libertário da terra prometida onde cada cidadão se constrói e é responsável por si mesmo. Onde o livre arbítrio e a liberdade individual são o bem supremo. Nada poderia ser mais diferente de um russo.
Por isso às vezes é tão difícil entender a alma, a Mãe Rússia e seus Czares.
Mais uma vez ficou evidente a influencia e o poder de Vladimir Putin e foi um teste ao presidente Dimitri Medvedev que parece impotente para impor sua agenda de modernização e primado da lei.
Muitos se perguntam o quanto Putin seria um czar moderno.
Mesmo num regime aparentemente democrático ele nomeou seu sucessor, se impôs como primeiro ministro e continua mandando no país.
Não é à toa que num dos telegramas da diplomacia americana vazado pelo Wikileaks a dupla é chamada de Batman e Robin. Uma forma bem humorada de se referir a quem manda de verdade.
Se surpreender e se perguntar se Putin reina como um czar moderno é ingenuidade e desconhecimento da nação e do povo russo.
É muito fácil se generalizar o entendimento dos povos e olha-los todos pelo mesmo prisma.
Não atentar para as particularidades nacionais leva a enormes erros de avaliação e é muito perigoso se alguma análise estratégica estiver envolvida.
Putin seria um czar moderno ou um ex-dirigente da KGB que sabe tudo sobre todos e representa a oligarquia pseudodemocrática que assumiu o vácuo de poder deixado pela URSS?
Se a Rússia abraçou a democracia parlamentar e representativa como então haveria lugar para um líder autocrático?
A pergunta é mal feita por que parte de um pressuposto que não é verdadeiro.
E finalmente: haveria lugar para uma democracia moderna e liberal na Mãe Rússia?
Putin reina como um czar moderno dentro de um regime democrático. Os Czares exerciam o poder autocrático num sistema imperial. Stalin, um czar vermelho, os sucedeu e agiu de forma semelhante num regime comunista.
Três regimes completamente diferentes. Três posturas idênticas. Quem os legitima?
A alma, o povo russo.
A noção de nacionalidade é extremamente poderosa para um russo.
A terra sagrada, a Mãe Rússia, é um componente popular, informal e populista da sagrada russidade e não corresponde à noção de nação moderna tal como a conhecemos.
Durante o assalto de Azov, na metade do século XVII, os cossacos sitiados pelos turcos cantavam que “nunca mais estaremos na Sagrada Rússia novamente...morreremos por seus ícones milagrosos, pela fé cristã, em nome do Czar e por todo o Estado moscovita”.
Na Rússia a noção de nacionalidade está secularmente fundamentada nos ícones, no governante supremo e no estado.
Rus, a terra sagrada, e o ser russky não se relacionam com a etnicidade, a língua ou a uma ideologia política.
A identificação nacional é formulada pelos ícones, pela fé e pela figura de um chefe. Um pai supremo.
Esta figura do grande pai é intrínseca na russidade. É a figura do déspota oriental.
Não há Mãe Rússia sem um pai onipotente. Seja ele um Czar, um primeiro-secretário do partido ou um presidente eleito.
As noções de nacionalidade variam muito.
O conceito moderno de nacionalidade é o resultado da Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa. Esta é a noção de Nação Consentida que se legitima pela opção deliberada de seus potenciais cidadãos. Este conceito revolucionário de nação é certamente a maior contribuição francesa à História e resultou na formação da maioria dos estados modernos.
Mas não da Rússia.
Esta noção de nação consentida se firmou principalmente na formação dos países novos da América e da Oceania onde inclusive não se segue o jus sanguinis.
Nestes países o conceito de nação e cidadania independe de raça, cor, religião, etnicidade e mesmo de língua. E de forma ainda mais radical, por exemplo, nos Estados Unidos e no Brasil.
Americanos e brasileiros são aqueles que desejam sê-lo.
Aqui se vive o sonho libertário da terra prometida onde cada cidadão se constrói e é responsável por si mesmo. Onde o livre arbítrio e a liberdade individual são o bem supremo. Nada poderia ser mais diferente de um russo.
Por isso às vezes é tão difícil entender a alma, a Mãe Rússia e seus Czares.