Durante a Segunda Guerra surgiram muitas piadas venenosas sobre os franceses.
- O que são 100 mil homens com as mãos e os braços levantados?
- Um exército de franceses.
- Por que as calças dos oficiais franceses são marrons?
- Quantos franceses são necessários para defender Paris?
- Ninguém sabe, eles nunca tentaram.
O orgulho nacional, e a opinião internacional, jamais se recuperam da rápida rendição francesa ao rolo compressor alemão. Apenas 15 dias.
E muito menos da vergonha do regime de Vichy, colaboracionista com os alemães, chefiado por um herói nacional como o marechal Philippe Pétain.
Berlim nunca teve grandes problemas na ocupação da França.
No mesmo e exato dia, 14 de junho de 1949, em que as tropas da Wehrmacht chegaram a Paris já se viam placas Man Spricht Deutsch - Aqui se fala Alemão - na porta dos bares e bordéis. Paris é uma festa; abriu a porta de seus bares e mulheres aos recém-chegados. Três dias antes da rendição.
Entre todos os países ocupados na França foi necessário o menor número de tropas para manter o país submisso. O exército alemão exercia pouca supervisão direta pois os franceses faziam todo o serviço.
Todo o serviço.
Hoje se conhece a enorme dimensão do engajamento francês na Solução Final, o extermínio dos judeus. O país manteve os campos de concentração de Drancy, Beaune-a-Rolande e Pithiviers.
A França foi o país que mais ativamente colaborou com o programa e um dos que enviou maior numero de judeus para o Holocausto. Inclusive de suas colonias.
Apesar de toda a lenda que depois se criou em torno da Resistência Francesa os números reais são pífios.
A figura de De Gaulle como representante da auto-denominada França Livre foi muito mais tolerada que respeitada. O figura do general ficou na percepção dos Aliados muito mais como um oportunista do que como um verdadeiro combatente.
Esta percepção da França e dos franceses é muito forte tanto em um comercial da cerveja belga Stella Artois (*) que mostra um piloto inglês abatido pelos alemães na França quanto na atitude de Eisenhower durante o planejamento do desembarque Aliado na Normandia, o Dia D.
Ike a certa altura perguntou aos ingleses:
- Dá para confiar nestes comedores de lesmas?
Particularmente nada contra os deliciosos escargots, principalmente quando gratinados com Roquefort ou com beurre aux fines herbes e acompanhados de um bom Pinot Noir. Franceses naturalmente.
Finalmente De Gaulle só foi informado por Churchill do desembarque das forças aliadas na França depois que o ataque do Dia D já tinha acontecido.
O francês reagiu tão furiosamente que o primeiro-ministro britânico lhe escreveu uma carta rompendo todas as relações pessoais e o expulsando da Inglaterra.
Feliz ou infelizmente a carta não foi enviada.
Quando Paris foi libertada dos nazistas quem lá chegou primeiro foi uma unidade militar aliada conhecida por La Nueve, por ser predominantemente composta por espanhóis. Foi preciso pedir que eles esperassem um pouco pelos franceses da Resistência antes de entrarem em Paris. Os franceses só apareceram realmente depois, no desfile da vitória.
Terminada a guerra a França tentou se impor como uma das potencias aliadas vencedoras, o que não foi muito pelo contrário. A atitude considerada oportunista não foi bem aceita nem pela Inglaterra nem muito menos pela Rússia. Por uma questão de geo-política os Estados Unidos terminaram aceitando e fazendo muitas concessões. Inclusive dando aos franceses um assento no Conselho de Segurança da ONU e uma área de ocupação na Alemanha.
Mesmo assim, depois de tudo o problemático presidente Charles De Gaulle surpreendeu.
Em fevereiro de 1966 a França causou uma crise muito séria na Aliança Atlântica e se retirou do comando militar integrado da OTAN.
Em seguida De Gaulle expulsou as forças americanas que haviam libertado a França dos nazistas e exigiu a retirada imediata dos soldados.
Durante a crise o Secretário de Estado americano Dean Rusk se encontrou com De Gaulle e lhe perguntou:
- Sua ordem também inclui os corpos dos soldados americanos que estão nos cemitérios franceses?
(*) Veja este excelente "Pilot" de Ivan Zachariás vencedor do Leão de Ouro de 2005 em Cannes