Rebel Flag - Confederados Soviéticos

Algo que intrigava meu filho Eric e a mim quando fomos morar na antiga Alemanha Oriental, a ex-comunista, era a quantidade de Rebel Flags por todo lado. Aquelas bandeiras vermelhas cruzadas com duas faixas azuis com estrelas brancas, as bandeiras confederadas dos estados sulistas da época da Guerra Civil Americana. Hasteadas em casas, lojas, postos de gasolina, usadas como adesivos em carros, enfeitando camisas e casacos. Bandeiras do Mississipi na Alemanha, e no lado oriental, o lado que tinha sido comunista.

Parecia completamente sem sentido que essas Red Flags aparecessem aqui e ali na Alemanha. Difícil contextualizar na Europa Central, principalmente numa região ex-comunista, um símbolo ideológico dos estados confederados americanos. A única pista é que a Rebel Flag atualmente é usada como ícone genérico de rebeldia ou como oposição política aos yankees. A conexão cultural com a Alemanha só me apareceria um pouco depois.

Eis que descubro outra curiosidade à respeito da extinta DDR, a Alemanha Oriental. Os estúdios da estatal Deutsche Film-Aktiengesellschaft – DEFA – produziram uma quantidade enorme de filmes de faroeste americano. Filmes de cowboy que os ossies, os alemães orientais, chamavam de Red Westerns. Red? Seria o vermelho das esquerdas? Os Red Westerns eram filmes no estilo de faroeste, mas com uma diferença fundamental: os heróis eram os pele-vermelhas e não os cowboys. Ok, Red. 
Não deixa de ser uma forma curiosa, meio delirante de ser antiamericano. Uma empatia pela luta do fraco contra o forte, do índio contra o americano. Apesar do contexto histórico completamente diferente, eram os mesmos inimigos. 

Estes faroestes alemães faziam um enorme sucesso no bloco soviético e neles havia uma celebridade, um galã pele-vermelha, o grande herói destes filmes. Uma espécie de John Wayne, só que ao contrário. Gojko Mitic, pronuncia-se Goiko, nascido na Sérvia, era um pop-star do Leste Europeu nos anos 60 e 70. O nome do ator gerou até uma gíria, Goikomitic. Ser um goikomitic era ser um rebelde. Rebelde? A conexão cultural com a Rebel Flag está clareando.

Gojko se tornou um fenômeno cultural. Após a queda do regime socialista o cineasta alemão Ramon Kramer fez em 2001 um documentário com ele e sobre ele. Der Berufsindianer, Gojko Mitic In Der Prärie: O Índio Profissional, Gojko Mitic Na Pradaria. Kramer rodou o filme efetivamente nos Estados Unidos com locações na Dakota do Sul e na Reserva Sioux Pine Ridge, em Wounded Knee. Gojko finalmente conheceu e trabalhou nos lugares reais dos filmes que ele havia feito.

Mas afinal como conectar tudo isso? Índios rebeldes, americanos confederados, comunistas e agora ex-comunistas. Para os comunistas ser anti-yankee era ser antiamericano e para qualquer um ser um goikomitic era ser um rebelde. A geração que cresceu assistindo estes filmes tinha entre 30 e 50 anos quando caíram os regimes soviéticos. Foi exatamente esta geração que se rebelou contra o regime e derrubou o Muro de Berlim. A Rebel Flag já começa a fazer mais sentido. Rebelde é rebelde, seja índio, confederado ou alemão.

Esta cultura faroeste não permanece apenas na Alemanha. Existem na Hungria campeonatos de Linedancing, a dança country do velho-oeste americano. Grupos muito bem formados, como o Six Rebels de Budapest, cultuam, se vestem, praticam e dançam country. Freqüentam bares e saloons em cidadezinhas temáticas, réplicas das cidades da época do faroeste. Com muitas Rebel Flags.
Eric acabou comprando uma. Filho rebelde é assim mesmo.