Klaus Velejador

Minhas crianças.
Well, crianças é que já não são. Vahine 20, Taanit 18, Klaus 15, Astha 14. 
Por causa da distância, Brasil-Portugal, uso todos os métodos possíveis para me manter em contato com meus filhos. Há anos quando só existiam os chats já passávamos tardes de sábado inteiras conversando, discutindo textos, ouvindo músicas. Em dial-up, imagine.

Bem as coisas mudaram e hoje usamos para nos comunicar um sistema próprio, avançadíssimo, chamado FOL.  O FOL é uma OSWS baseada em HSCR com recursos VTIR trafegando em HSCR.
Gostou, se interessou? Brincadeirinha: OSWS (open source web structure), HSCR (high-speed connection rate) , VTIR (voice, text and image resources) é tudo conversa fiada de analista de sistemas, hehe.  Ah sim o tal sistema FOL. É o Father On-Line...

Pois é passamos horas no Skype, fazemos tarefas de escola juntos e on-line, pesquisamos, montamos, criamos textos e apresentações. E-mails, Facebook, Orkut, GoogleTalk, MSN, HI5, YouTube, SMSs e Voips, downloads e uploads, usamos tudo.
Chegamos até ao absurdo de apelar para os correios, telefone e celular convencionais.
Ouvimos música, assistimos vídeos, almoçamos juntos, planejamos roteiros, férias e atividades. 
Comentamos livros, notícias, filmes e DVDs. Trocamos receitas e uma vez até cozinhamos on-line. 
Já estive presente - webcam, caixas de som e microfones lá e cá - em uma festa de aniversário que para mim foi virtual.
Às vezes brinco: 
- Vou ao banheiro agora, levo o laptop ou vocês esperam? 
- Ô Paaiiiiêê... 
A parte chata é que eles controlam a quantidade de cigarros e cervejas. Não dá pra esconder. Em compensação comemoramos as passagens de ano duas vezes. No fuso horário de lá e no de cá.

Eventualmente a coisa fica engraçada. Às vezes ouço uma voz mais alta da mãe a repreendê-los e acabo me metendo. Coitadinhos, pois aí eles têm que enfrentar a crítica de nós dois, pois ela quase sempre tem razão. O resultado de tudo isso é que acabo sendo mais presente que muitos papais por aí. E com a grande diferença que há mais qualidade e consistência nos contatos.
Como eles são excelentes alunos ganham prêmios em dinheiro das escolas e financiam as próprias viagens. Espanha, Italia, França, Noruega, eles conheceram com os próprios recursos. With a litlle help from mom & pop, mas a iniciativa é deles.

A Taanit, superdotada, me surpreendeu escolhendo Gastronomia ao invés de fisica nuclear, astronáutica ou algo exótico. Excelente, ela vai se dedicar ao que gosta.
A Vahine está no meio do curso de Cinema e já está para fazer estágio profissionalizante nos próximos meses. Ela está em dúvida entre Brazil, França ou Alemanha.
A Astha que já tinha me dado um susto enorme ao aparecer com um romance com mais de 200 páginas, quando ainda tinha 12 anos, continua a surpreender. Já lhe encomendaram uma peça de teatro ligeira para servir de teste vocacional a candidatos à uma escola de teatro. E depois disso escreveu um conto policial. Todos de muita qualidade. 

Mas o que me deixou ainda mais pasmo foi o que ela disse há cerca de dois meses. 
- Decidi estudar e viver num país civilizado, mas não em um país aparentemente civilizado. Vou para Cambridge cursar Linguas Modernas e Medievais.  
Simples assim.  E ela já tinha tudo em mãos: duração e matérias do curso, forma de financiar os estudos, de como paga-los e de como morar na universidade. 
E mais recentemente ela estreitou o foco. 
- Para ter certeza de entrar em Cambridge o ideal é terminar o secundário lá mesmo na Inglaterra.
Claro que ela está certa, na primeira decisão a segunda já estava quase implícita, mas mesmo assim ela me deixou surpreso. Agora ela está planejando como realizar, já entrou em contato com escolas secundárias inglesas e já sabe como tudo deverá funcionar.

Nestas três opções de vida eu me reconheço mais que em mim próprio: Cinema, Gastronomia e Literatura. As coisas de que mais gosto mas que nunca tive a coragem de segui-las profissionalmente. 
O impacto emocional é enorme, a satisfação indescritível. Poderia de tão longe te-los influenciado? Ou é apenas coincidência? Sandra, a mãe, assume, coitada, que:
- Eles todos têm nos gostos, personalidade e escolhas uma parcela muito grande do Ivan. 
Pobre mulher, que mesmo divorciada tem que conviver com quatro lindos fantasminhas. 

Mas até agora a grande incógnita era o Klaus. O que ele decidiria? Que escolha faria? Como ele é muito caseiro e vive grudado no laptop estava difícil adivinhar. Informática? Provavelmente não, por que ficar na frente de um computador hoje em dia não significa necessariamente uma vocação. E não seria pelo DNA por que apesar dessa ser minha profissão ela é apenas isso.

Mas eis que de repente surge uma grande novidade que nos surpreendeu a todos. 
Klaus saiu da frente do computador. 
Klaus escolheu um esporte para praticar. 
Klaus se matriculou numa escola para praticá-lo.
Klaus está VE-LE-JAN-DO.
Juro que chorei.

Velejar.
Não há nada que me dê mais prazer. Participei de uma equipe de vela, tive barco, participei de um monte de regatas, velejei em solitário por dias e por muitas vezes. Sobrevivi sozinho a uma tempestade onde outros barcos afundaram. Minhas filhas Taanit e Vahine devem seus nomes à veleiros! 
Uma cineasta, uma chef, uma escritora e agora um velejador. Meus filhos queridos, estes quatro pedaços enormes de mim.
Fico a pensar se os deuses decidiram me  abençoar com tantas e enormes alegrias ou se preferiram, abusando da Onipotência e na melhor tradição grega se divertir me mantendo apartado delas.