Muro de Berlin

Muito sintomático que na festa de comemoração da queda do Muro de Berlin e conseqüente Reunificação estivessem apenas 100.000 pessoas, quando em 1963 na visita de Kennedy à Berlin uma multidão de cerca de meio milhão tenha ido para as ruas.
Esta divisão que separou a Alemanha em dois países adversários deixou marcas muito profundas no povo. Ossies, os orientais, e Wessies, os ocidentais ainda terão muito que conviver para se tornarem uma nação realmente única.
Motoristas de táxi em geral são um ótimo termometro da voz do povo e eu ouvi em Berlin um deles dizer que não acreditava que em menos de duas gerações se chegasse a uma normalidade. E ao que parece vai ser mais ou menos por aí.

Considere-se que Helmut Kohl, o chanceler na época, prometeu que a Reunificação se faria sem maiores custos econômicos. Mas até agora foram torrados bilhões de Euros para reconstruir a parte oriental e as diferenças continuam muito grandes.
A Alemanha em conseqüência destes gastos entrou em recessão e como locomotiva da Comunidade arrastou junto a União Européia.
Além de tudo os Wessies se resssentem de pagar o “imposto da solidariedade” para ajudar os irmãos orientais. E os Ossies se sentem não menos ressentidos pelo fato dos Wessies se sentirem como os vencedores da História e se portarem como conquistadores.

No lado oriental já surgiu inclusive um sentimento chamado Ostalgie, a nostalgia do tempo em que ainda havia uma Ost, uma Alemanha Oriental. Até alguns dos produtos de segunda qualidade típicos da RDA, do tipo café misturado com cevada, chocolate misturado com centeio estão voltando a ser produzidos nos Neue Länder, os cinco novos estados. Aliás esta denominação soa um bocado complicada já que dá um tom não de reunificação mas de apropriação.

Voltando à visita de Kennedy em junho de 1963.
JFK ficou extremamente emocionado quando se viu frente a frente com o Muro e quando percebeu havia 500.000 pessoas esperando para ouvi-lo.
Emocionado ele começou a falar e saiu radicalmente do discurso que estava preparado e falando de improviso entusiasmou-se e excedeu-se. A situação ficou extremamente tensa e temeu-se que a multidão se descontrolasse e avançasse contra o Muro.
O barril de pólvora quase foi acendido e ele comentou depois, meio arrependido, com seu assessor militar McHugh:
- Se eu lhes dissesse que saíssem dali e fossem derrubar o Muro de Berlin, eles o fariam.

Este acabou por ser um de seus discursos memoráveis terminando com o famoso Ich bin ein Berliner. Eu sou um Berlinense. Esta frase tão forte no contexto em que foi dita terminou virando quase uma piada por uma desculpável incorreção gramatical.
Diz-se Ich bin Berliner sem o ein, pois usando o ein (um) da-se a impressão de que se está afirmando ser um Berliner que é um doce, conhecido como Bola de Berlin. Sonho no Brasil.

De qualquer forma é bom não esquecer que aquele Muro nunca seria construído sem algum tipo de consulta entre os antigos aliados, soviéticos e americanos.
Dificilmente a Alemanha Oriental tomaria uma iniciativa tão radical sem tomar o pulso da reação dos outros países. Tanto quer ao saber da construção do Muro o mesmo Kennedy disse:
- It's not a very nice solution... but a wall is a hell of a lot better than a war.
Não é muito legal mas um Muro é bem melhor que uma Guerra. 

Não há inocentes nesta história. Só perdedores, e o maior deles é o Povo Alemão.