A Fonte da Donzela

A Fonte da Donzela do Bergman é daquelas obras primas que quando termina te deixa quieto, pensativo, sedado pela beleza das imagens, pela direção cirúrgica, pela reflexão que te instiga.

O filme é baseado numa lenda medieval de fé, inveja, felicidade, pureza, crueldade, vingança, redenção e arrependimento. Difícil imaginar conteúdo mais humano, mais arrebatador. A Fonte da Donzela é uma tragédia, uma tragédia de uma brutalidade contida e finalmente explícita de deixar o Tarantino sem folego. Bergman consegue imprimir um desespero latente, conter tua respiração, te fazer ansiar pelo fim. O mestre das pausas e dos silêncios chega a torturar nos momentos de tensão.

Além de tudo há a fotografia do Sven Nykvist com mesma importância dos diálogos, das interpretações, da direção. O uso que ele faz de luz e sombras é magistral. Cinema no mais puro e estrito senso. Sem exagero, é uma aula magna de fotografia.
Há pelo menos dois momentos magistrais da interpretação do Max von Sydow. O primeiro quando ele prepara sua vingança. O segundo quando ele fala com Deus sobre justiça, crueldade, vingança e arrependimento. Neste segundo momento Bergman explora ao extremo a ansiedade do espectador deixando Von Sidow quase de costas para a câmera. Aqui a experiência do Ingmar em teatro faz uma enorme diferença.

Na verdade na história há duas tragédias, aparentemente opostas, seguindo rumos paralelos que no final se interligam, se mostrando muito semelhantes em sua essência.
Vale muito, mas muito mesmo, a pena revê-lo. Seja pela direção, pela fotografia, pelas interpretações ou pela simplicidade e grandeza da história.
É um dos dez filmes que eu levaria para uma ilha deserta. Se desse para assistir filmes em ilhas desertas.