A Partícula de Deus

Estamos a um passo de chegar ao conhecimento científico mais procurado nas ultimas seis décadas. O Bóson de Higgs.
Acredita-se que a partícula surgiu imediatamente após o Big Bang iniciando o processo de formação do Universo.
A partícula de Deus.
A localização da partícula é o elo que falta para concluir a Teoria da Física de Partículas - conhecida como Modelo Padrão - que descreve como partículas e forças interagem.
O Bóson e o Campo de Higgs explicam como a matéria foi criada. Eles seriam responsáveis por criar a massa de todas as outras partículas durante a criação do Universo.

Funcionaria assim.
Quando universo esfriou logo após o Big Bang, uma força invisível conhecida como o Campo de Higgs teria se formado juntamente com o bóson.
O campo de Higgs cria uma resistência ao movimento tornando o movimento das partículas mais lento levando-as a se aproximar umas das outras e se juntar. Ao se juntar as partículas criam massa e formam os átomos.
Nesse momento a matéria é criada.
Sem a existência do campo estas partículas viajariam dispersas pelo cosmos na velocidade da luz e não conseguiriam se aglutinar, a matéria não existiria.
Sem o campo não existiria o Universo.

A origem do nome Partícula de Deus, apesar de soar imensamente poético, como quase tudo em Física de Partículas, não é exatamente o que parece.
O físico Leon Lederman escreveu um livro sobre suas frustradas tentativas de provar a existência do bóson de Higgs e deu-lhe o título de The Goddamned Particule, A Partícula Maldita 
O editor achando o título muito forte cortou um pedacinho e ficou The God Particule, A Partícula de Deus. Seis letrinhas a menos, mas que fazem toda a diferença.

O campo de Higgs e sua partícula fundamental, o Bóson, têm sido estudados no LHC - Grande Colisor de Hádrons - em Genebra operado pelo CERN, Organização Européia para Pesquisa Nuclear.
O CERN, criado em 1954, é o maior laboratório de física de partículas do mundo, tem vinte Estados membros, um efetivo de aproximadamente 2.400 funcionários em tempo integral e mais de 11.000 cientistas e engenheiros de 580 universidades e centros de pesquisa de 80 países.
O CERN foi o único lugar onde cientistas russos e americanos trabalharam juntos durante a Guerra Fria. A organização está relacionada a oito prêmios Nobel.

Por meio do projeto Sprace pesquisadores brasileiros operam e coordenam uma rede de processamento de dados e participam da análise dos dados produzidos. O volume de dados é de cerca de 700 megabytes por segundo, equivalente a  quase 10 mil DVDs por minuto. Anualmente são processados 15 petabytes de dados, volume de informação equivalente a mais de 3 milhões de DVD's.
Os grupos de pesquisa do CERN estudam os momentos imediatamente seguintes ao Big Bang através do aceleramento de partículas fundamentais.
Duas equipes estudam a criação do universo no LHC, o Grande Colisor de Hádrons. O LHC é um túnel circular de 27 quilômetros na fronteira da França com a Suíça, repleto de ímãs que conduzem partículas de prótons pelo imenso anel.
O tunel fica a cem metros de profundidade e é refrigerado a -271,25 ºC, quase o zero absoluto, mais frio que o vácuo do espaço sideral.
Para resfriar os eletroímãs e opera-los sem resistência elétrica, o LHC usa cerca de 10 mil toneladas de nitrogênio líquido e depois mais 54 toneladas de hélio líquido para refrigerá-los ainda mais.

Apenas para acelerar e energizar partículas elementares o LHC consome anualmente cerca de um milhão de megawatts hora (MWh), suficientes para alimentar uma cidade. Mesmo a preços subsidiados são gastos cerca de vinte milhões de Euros em eletricidade.
O complexo compreende além do gigantesco LHC, seis aceleradores de partículas. Cada um aumenta a energia das partículas antes de entrega-las ao seguinte.
INAC 2, acelera as partículas para as injetar no Proton Synchrotron Booster.
LINAC 3,  fornece ions pesados para injeção no  Low Energy Ion Ring.
Proton Synchrotron Booster, aumenta a energia das partículas geradas no Linac 2 antes de transferi-las. Low Energy Ion Ring, acelera as partículas de ions vindos do Linac 3 antes de envia-las ao Proton Synchrotron.
Proton Synchrotron aumenta ainda mais a energia dos feixes.
Proton Super Síncroton, um acelerador circular com 2 Km de diâmetro, injeta mais energia nos feixes antes de injeta-las no LHC.
Ao chegarem ao túnel de 27 km do LHC as partículas aceleram durante 20 minutos antes de atingirem a energia e velocidade máximas, próximas da velocidade da luz.

O Big Bang está a um passo.
Em determinados pontos do trajeto o colisor faz com que os feixes de prótons se choquem uns com os outros a uma velocidade próxima à velocidade da luz para que seja possível detectar novas partículas surgidas da colisão.
O CERN recria as condições do Big Bang para observar o aparecimento do Bóson. O processo assusta muita gente, cientistas inclusive, que temem uma mega-explosão descontrolada. Os experimentos podem criar micro buracos-negros e há quem tema que um deles cresça o suficiente para sugar e engolir a Terra à partir do laboratório.
Os cientistas do CERN disseram que existe a possibilidade de serem criados micro buracos-negros mas que seriam muito pequenos para engolir a Terra, e foram em frente.
Muitas manifestações já tentaram acabar com algumas experiências do CERN. O mundo sabe que as experiencias e descobertas do CERN são imensas e algumas podem ser inesperadas. O homem nunca chegou tão perto do momento da Criação.
Já houve a suspeita de que alguns dos neutrinos acelerados tivessem desaparecido.
Como a matéria não desaparece eles teriam então passado para outra dimensão, um universo paralelo, o que teoricamente é possível. O homem estaria transferindo matéria para outras dimensões desconhecidas.

Outra descoberta no CERN atordoou o mundo.
Em Setembro de 2011 duas equipes disseram que medições realizadas ao longo de três anos mostraram que neutrinos expelidos pelo laboratório viajaram até Gran Sasso, na Itália, em um tempo 60 nanossegundos inferior ao que a luz demoraria para fazer o mesmo percurso.
Partículas subatômicas deslocando-se a velocidades superiores à da luz colocam em xeque as teorias de Einstein sobre as leis do universo.
A Teoria Especial da Relatividade diz que a velocidade da luz é uma constante universal imutável.
Universalmente aceito o conceito é a base da compreensão que temos, pelo menos até agora, do Universo e de seu funcionamento. O anúncio gerou imensas polêmicas, com acusações agressivas entre os que acreditam ou não na quebra do maior tabu científico da história.

Agora uma revelação criou ainda maior alvoroço. Dentro do CERN há duas equipes independentes trabalhando sem nenhum contato um com o outro, à procura do Bóson de Higgs. O Atlas e o CMS. Em 13 de Dezembro de 2011 foi anunciado que os dois  grupos chegaram a conclusões semelhantes. A equipe CMS encontrou evidências no intervalo de massa entre 115 Gev (gigaelétron-volt) e 127 GeV. A massa encontrada seria cerca de 130 vezes mais pesada que os prótons encontrados no núcleo dos átomos.
Este excesso pode ser resultado de uma flutuação mas também pode ser algo tremendamente importante.O excesso é muito compatível com a existência de um Bóson de Higgs nos arredores de 124 GeV e abaixo.
E mais: há 95% de chances do bóson não ser encontrado no intervalo entre 127 GeV e 600 GeV, portanto já se sabe com precisão onde ele está.
A equipe Atlas chegou a conclusões semelhantes às do CMS. Para eles o bóson está na região entre 116 e 130 GeV
Duas equipes trabalhando isoladas chegando ao mesmo resultado é sinal de comprovação cientifica. A descoberta, importantíssima, é a pista para descobrir onde a partícula se "esconde".Agora se conhece com precisão científica a região onde o bóson estaria.
O homem já sabe aonde vai encontrar a Partícula de Deus.
O anuncio deixou o mundo e a comunidade científica em estado de alerta.
A grande descoberta está prestes a ser feita. Estamos a um passo de entender, e repetir cientificamente, o momento inicial da Criação do Universo.

Muitas pessoas disseram que está chegando a hora de rever Einstein e de rever Deus.Isso mesmo, rever Deus. Sintomaticamente a cada novo limite científico ultrapassado, ou a ultrapassar, a velha questão existencial  volta a aparecer.  Junto com ela também vem a vontade de rever conceitos filosóficos fundamentais.
Desde Platão que ele nos alertou que quanto mais sabemos mais sabemos que não sabemos. Só sei que não sei. Por isso estamos sempre revendo o Conhecimento.
Já a existência e o conceito de Deus é questão de Fé. Ou se tem ou não se tem. É pessoal, não é científico.
Se a teoria do Campo de Higgs estiver correta, e tudo indica que está, chegaremos sim até o Bóson. Iremos ainda mais além e chegaremos a imensas descobertas. Esta tem sido a maravilhosa aventura humana, a nossa aventura de viver.
Desde Prometeu.
Mas sempre estaremos acompanhados da mesma dúvida fundamental. Não estamos nem estaremos mais perto nem mais distantes de sua solução. O  CERN está à procura do momento da criação do universo e da partícula fundamental, o Bóson. Note que a pesquisa pressupõe a existência do Campo de Higgs, “uma força invisível”. O maior experimento científico da Humanidade parte do pressuposto da existência de uma força inexplicável.
Conceitualmente portanto nada muda em relação à origem do Universo. Estamos chegando cada vez mais perto dos mecanismos e da compreensão da origem do Universo, mas a questão fundamental permanece. Reveremos Einstein, como revimos Newton e continuaremos a nos rever sempre.
Mas não há como rever Deus.
Nem para os que crêm nem para os que não crêm.