Hoje é domingo, dia de Brunch.
O brunch – breakfast + lunch – é um das idéias mais interessantes que conheço. Pelo menos na Inglaterra foi adotado como uma forma de manter o hábito de continuar a tomar um café da manhã substancial nestes dias modernos.
Como durante a semana já não é possível ficar tanto tempo à mesa pela manhã para o breakfast tradicional transferiu-se o prazer para o sábado ou o domingo.
Dorme-se até mais tarde e a primeira refeição do dia junta o café da manhã com o almoço. Se ganha tempo, desfruta-se de uma ótima refeição e convive-se mais em família ou com os amigos.
Antes de me mudar para lá, quando eu tinha uma reunião de trabalho em Londres eu sempre as marcava para as segundas-feiras para incluir na viagem um fim-de-semana de lazer. Já tinha meus hotéis preferidos, escolhidos justamente pelo brunch. Em matéria de brunch, com exceção dos hotéis alemães, nada como um bom hotel inglês.
A explicação é simples. Como a comida inglesa é péssima, bizarra, os hotéis ingleses além de seu cardápio tradicional precisam servir o cardápio Continental para atender os clientes de fora.
Comida inglesa é bizarra? Põe bizarro nisso. Que outra palavra se aplicaria melhor para o tradicional beans-on-toast? Uma torrada, coberta com feijão cozido em molho de tomate adocicado, com um ovo frito por cima. Isto mesmo: pão, feijão doce e ovo frito. Argh.
Voltando aos hotéis ingleses, as opções do menu portanto duplicam. Você tem o menu local, de peixe frito, muitas salsichas, batatas fritas, saladas, presuntos, bacon, aves, fígado, ovos, os quatro tipos de cheddars, outros queijos e o divino Honeyham. E ainda mais o menu continental de geléias, queijos, presuntos, biscoitos, frutas, diversos pães, cremes, tortas, bolos e croissants. Além é claro do que a imaginação do Chef preparou.
Uma farra, principalmente para mim que sou guloso. Mortalmente guloso.
Mas eis que me acontece um daqueles dias em que os deuses decidem testar seu autocontrole. Quando entro no salão para tomar meu brunch me deparo com uma multidão de japoneses. Não existe um japonês, japonês é coletivo. Eles não andam em menos de vinte. Lá se ia meu sossego.
Mas como tudo na vida tem um lado bom e outro ruim, menos é claro os discos do Oswaldo Montenegro onde os dois lados são ruins, havia uma surpresa fantástica neste brunch. Como havia aquela multidão de japoneses no hotel o Chef gentilmente preparou também um menu japonês para agradar seus hospedes. Isso mesmo: um buffet imenso com o breakfast inglês, o continental e o japonês.
Quase morro.
Para ser justo, conheço um hotel-restaurante-posto de gasolina de beira de estrada na região do Pajeú no interior de Pernambuco que serve um café da manhã sertanejo que é alucinante. Os cabras preparam todas aquelas comidas tradicionais e juntam tudo numa espécie de Brunchist: brunch + northeast, um brunch do Nordeste.
Doces, bolos, queijos crus, assados e fritos, frutas, pratos de milho, canjicas, pamonhas, cuzcuzes doces e salgados, xerém, mingaus, tapiocas, beijús, farofas, carne de sol, linguiças de boi e de porco, mandiocas e outras raízes, ensopados e fritos de bode, carneiro, porco e boi.
O preço cabe em qualquer bolsa-família: inacreditáveis quatro euros.