Raimundo Bispo dos Santos

Minhas amigas feministas vão querer comer meu fígado mas essa história é engraçada demais para não ser contada.

Raimundo Bispo dos Santos.
Difícil imaginar um nome mais baiano que este. Raimundo mora no Curuzú, no coração da Liberdade, o imenso bairro predominantemente negro de Salvador. A casa de Raimundo fica ali bem perto da Senzala do Barro Preto, a sede do Ilê Aiyê.Ele leva um vida modesta, trabalha como auxiliar de escritório numa empresa no Comércio, o bairro de Salvador próximo do porto, do Elevador Lacerda e do Mercado Modelo. Raimundo é um sujeito muito bem humorado, leva tudo na alegria e até de sua vida ele faz piada.
Tão modesta é a vida de Raimundo que ele conta que leva um vida parecida com a piada do sujeito que ganhava tão mal que ao receber o salário separava o dinheiro para pagar o quarto da pensão onde morava, o dinheiro do transporte e da comida. Com o que sobrava ele passava na farmácia da esquina comprava um Sonrisal, comprava umas revistas masculinas, escolhia as melhores fotos e as pregava nas paredes do quarto. Depois colocava o Sonrisal num copo d’água, deitava-se na cama, levantava o copo fazendo um brinde e dizia:
- Mulheres, champanhe, isso é que é vida!

Mundinho, como todos lhe chamam, é muito conhecido e amigo de todos na vizinhança. O Curuzú todo lhe conhece. Alegria em pessoa. Apesar de ter enviuvado cedo ele educou bem os dois filhos. Antônio fez um curso técnico e trabalha numa indústria do Pólo Petroquímico em Camaçari. Maria é auxiliar de enfermagem no Hospital Roberto Santos. Como os dois já se casaram Mundinho mora só.
- E aí Mundinho como estão os filhos?
- Mais ou menos. O Antônio tá bem, trabalhando, numa boa. Mas a Maria anda muito infeliz.
- Por que? Tá desempregada?
- Nada. Não é isso não. É por causa do marido.
- O que foi? O cara matrata ela?
- Não é isso não, ele trata ela até muito bem, faz tudo que ela quer.  Mas imagine que o sujeito agora resolveu ser corno. A Maria tá sofrendo muito coitada.

A figura é muito bem humorada, faz graça de tudo. Apesar do orçamento apertado Mundinho está sempre presente nas lavagens, nas festas de largo e todo carnaval saí no Ilê. De vez em quando toma umas cervejas com o pessoal, joga um futebol na praia em Piatã, namora umas nêgas e vai levando a vida numa boa,tranquilo. Até que um dia a fezinha que ele sempre fazia no bicho premiou. Não foi uma fortuna mas foi uma boa grana que deu pra pagar os atrasados de um terreno que ele tinha comprado no litoral norte perto de Itacimirim e que ele estava prestes a perder. O resto ele botou na Caixa.
A notícia que Mundinho tinha ganhado uma bolada no bicho se espalhou pelo Curuzú. Logo apareceu um monte de gente pedindo emprestado, propondo negócio, vendendo coisas.
Mundinho passou bem por essa primeira fase sem fazer inimizades e sem tocar na poupança.
Apesar disso uma situação estava lhe incomodando. O assédio. De repente as mulheres e até os gays não deixavam Mundinho em paz. Viviam na porta dele, lhe cercavam no bar. Acabara o sossego.

Mas aí ele teve uma idéia. Já sei como vou acabar com isso, pensou.
Ele espalhou a notícia na comunidade que estava com problemas na próstata. Fez suspense e depois de alguns dias disse que ia ter de operar. mais alguns dias ele falou com o patrão, pediu dois dias de férias no trabalho e foi para a casa de uma tia em Mar Grande. Quando apareceu de volta no bairro ele contou na comunidade que tinha se operado, que estava tudo bem.
- Mas e aí Mundinho? Ainda funciona?
- Rapaaiz, funcionar já era, nem com Viagra. Mas não teve jeito, teve de ser, teve de operar.
- Paciência Mundinho, a vida continua.
- Pois é...

A notícia se espalhou rápido. Mundinho ficou esperando o resultado. Os gays sumiram, pararam de assediar. Mas o mulheril não saía da porta de casa, parecia até que tinha aumentado a quantidade. Mundinho não entendeu. Como ele tinha um amigo do peito, Josafá, bróder de verdade e que sabia da história da falsa operação, comentou com ele:
- Ô Jósa num tô entendendo, o mulheril não sai da minha porta, até piorou.
- Faz o seguinte Mundinho, agora tu espalha que empregou o dinheiro num negócio errado, que perdeu tudo e que ainda tá devendo.
Funcionou.