Tênis e Havaianas

Desde que tive um gravíssimo acidente de asa delta que um médico atirou-me uma “praga”. Malhar para sempre e só usar tênis, nada de sapatos. Fraturei a C2 e a L2, isto é parti a base do pescoço e a base da coluna. Um milagre estar vivo.
A malhação é facilmente compreensível, você nunca viu um esqueleto em pé, a não ser nos filmes do Vincent Price e afins. Um esqueleto precisa da musculatura para se manter ereto. Quanto melhor ela estiver menor o esforço na coluna. E o tênis? Para diminuir o impacto do andar na coluna.

A indumentária humana evoluiu muito durante a História, cortes, modelos e principalmente tecidos. Há tecidos hightech que com uma única camada aderente ao corpo lhe permitem ficar ao ar livre no frio dos pólos. Outros aumentam a velocidade ao nadar. Mas quanto ao calçar continuamos ridiculamente pisando em pele de boi.

O sapato é um acessório anacrônico. É do tempo do Egito Antigo quando surgiu a arte de curtir o couro e fabricar sapatos. Mas há evidencias arqueológicas de ele nasceu há mais de dez mil anos atrás, talvez junto com o Raul Seixas, no final do Paleolítico.  Mudou pouco ou quase nada, um verdadeiro crime contra a coluna pelo impacto que transmite. Um absurdo técnico e ergonômico.

O tênis é o calçado tecnológico por excelência. É anatômico, tem camadas diferenciadas, protege a coluna, ajuda no andar, aumenta a eficiência no correr. Os laboratórios de pesquisa não param de melhorá-lo. Mas no dia a dia continuamos andando como na pré-história, com um pedaço de pele de animais amarrado nos pés. Andar de tênis não é apenas mais confortável, é mais racional.

Em Janeiro de 1981 o primeiro ministro canadense Pierre Trudeau visitou o Brasil. Trudeau além de ter governado o Canadá por 15 anos, era uma elegante celebridade internacional, casado com uma mulher belíssima muito mais jovem que ele. Ele já tinha até tirado umas fotos abraçando a Yoko Ono ao lado do John Lennon.
Ao descer do avião Trudeau estava chiquézimo. De terno e tênis brancos. O presidente Figueiredo que estava na pista para recebê-lo quase caiu do cavalo. D. Dulce evidentemente adorou, Andreazza sentiu uma pontinha de ciúmes. Furor na imprensa, frisson nas socialites.

Mas eis que agora, de novo um médico me aparece displicentemente com outra “receita”. Andar, sempre que possível, de sandálias havaianas. O quê? Havaianas? As do Psiti? Argh!
Isso mesmo, elas mesmo, as tais que não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro. Motivo? Elas simulam o andar descalço, ventilam e massageiam a planta dos pés.
Mas o maior benefício é que elas fazem os dedos se articularem e atuarem efetivamente no andar. Alongam a musculatura, os tendões e evitam câimbras. Simples assim, ô psiti.