Um Gentleman à Moda Antiga

Reinhard Tristan Eugen Heydrich nasceu predestinado a uma vida de sucessos pessoais e extraordinárias realizações.
Nasceu numa familia alemã sofisticada e culta, filho de um compositor e cantor de óperas e de uma professora de piano. Seu primeiro nome é um tributo a um personagem de uma ópera composta pelo pai, o segundo uma homenagem a um herói de Richard Wagner e o terceiro foi tomado de seu avô, diretor do Conservatório Real de Dresden.

A família de Heydrich além de grande projeção social tinha recursos financeiros substanciais que lhe garantiram uma excelente educação. Ele cresceu cercado de arte e requinte. Seu pai fundou o Conservatório de Música de Halle. A mãe lhe ensinou piano, mas sua paixão e virtuose era o violino. Ele tinha um talento excepcional que impressionava as audiências.

Reinhard também era um grande esportista. De personalidade requintada tornou-se um excelente esgrimista. Venceu duelos. O menino cresceu muito bonito e se tornou um sedutor. As mulheres não resistiam ao charme do playboy alto, louro, de olhos azuis. Sensível, culto, atleta, rico e bonito ele destroçou alguns corações. Milhões para ser exato.

Inteligente e brilhante ele tornou-se um competente executivo, atingindo metas impressionantes em sua carreira. Casou-se com uma nobre, teve quatro belos filhos, Klaus, Heider, Silke e Marte. Entrou para a política e brilhou ao restruturar o Ministério do Interior da Alemanha. O chanceler alemão o considerava o membro mais admirável, leal e eficiente de sua equipe.

Sua competência também foi reconhecida internacionalmente. Eleito presidente da Interpol foi muito elogiado pelo FBI. Os americanos consideravam seus métodos avançados e sua moderna administração como um exemplo a ser seguido.
Mas o belo e sofisticado gentleman, com seu nome de herói de óperas, morreu como um deles, vítima de um trágico acidente em sua Mercedes conversível.
Um charme na vida, um charme na morte.

Reinhard Heydrich, o Carniceiro de Praga.
Responsável pela morte de milhões de judeus foi o presidente da infame Conferência de Wannsee onde se decidiu a operação do Holocausto. A reunião onde a maioria dos participantes tinha menos de 40 anos, metade deles com doutorado, iria se realizar na sede da própria Interpol, mas por conta de um imprevisto foi transferida para uma mansão da Gestapo no lago Wannsee.
Ele foi assassinado por um comando de páraquedistas, que voou da Inglaterra para Praga, treinados pelo serviço secreto britânico no melhor estilo double-o-seven. Sua morte levou a um ato de vingança que prendeu 13.000 pessoas, dizimou toda a população de Ležáky e todos os homens de Lídice. 

Heróico, como os personagens de seu nome, Heydrich resistiu durante o atentado.
Ao dobrar uma esquina seu Mercedes conversível diminui a velocidade. O comando surge com uma metralhadora em frente ao carro. O motorista quer acelerar, Heydrich manda parar, salta e corre para os atacantes. O comando joga uma granada antitanque. Heydrich é atingido.
A fumaça se dissipa, ele se levanta e corre de pistola na mão em perseguição aos assassinos. Eles fogem de bicicleta. Heydrich sangra muito nas costas, é socorrido por uma mulher, jogado em um caminhão e levado para a emergência do Hospital Bulovce.

A morte de Heydrich poderia ter sido evitada.
Ele chegou a se recuperar dos ferimentos e no hospital recitou versos sobre o destino. Ele foi tratado durante nove dias por Kerl Gebhardt, médico pessoal de Himmler. Apesar da recuperação Heydrich entrou subitamente em coma e morreu de septicemia.
O médico deliberadamente não lhe deu sulfonamida, suficiente para deter a infecção. Invejóosa.

Bonito na vida como na morte um amigo descreveu sua última expressão facial como de "uma estranha espiritualidade e de uma beleza pervertida, como um cardeal do Renascimento". Findas as hostilidades o novo governo da Alemanha concedeu a sua viúva uma justa aposentadoria federal.
Heydrich atingiu vários recordes impressionantes em sua carreira, só não conseguiu em termos de massacre étnico superar os brasileiros na Guerra do Paraguai.