Ídiche Mama

No aniversário do filho a mama lhe dá duas gravatas de presente. No dia seguinte ao se vestir para trabalhar o filho atento aos presentes que recebera escolhe uma das duas. A mãe espera para ver qual gravata o filho estaria usando. Ao ver a gravata ela diz chorosa:
- Você não gostou da outra.

Estas histórias de mãe judia são interessantes por que refletem a ideologia da mãe ocidental.
Como todo comportamento é fruto de um contexto histórico, social, religioso e político estas piadas não fariam o menor sentido para um índio americano, um negro zulu ou um esquimó. Nem mesmo para um japonês ou chinês. A ídiche mama é produto da cultura européia.
A mãe judia, esta mulher castradora e centralizadora que faz do sofrimento pessoal sua bandeira, do sacrifício familiar seu objetivo e sua realização é uma mulher ocidental, européia e burguesa.

A mãe judia é mãe da Psicanálise. Não dá para aplicar a maioria dos conceitos e descobertas freudianos fora deste contexto. É difícil botar um oriental, um índio ou um africano deitado no divã. Lacan dizia meio na brincadeira que japonês não tem inconsciente (*).
Há uma cantiga de roda chamada Terezinha de Jesus:
Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão
Acudiram três cavalheiros, todos três chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele 
Que a Tereza deu a mão.

Estas são as três figuras masculinas que estruturam a vida de uma mulher.
O pai, o amigo/irmão e por fim o que ela escolhe para ser efetivamente o seu homem. Idealmente ela só estaria pronta para escolhe-lo quando se resolvesse saudavelmente a relação paterna. Idealmente só então ela poderia escolher seu homem, formar um novo casal, uma nova família e reproduzir a mesma história. Estes seriam sucessivamente os homens de uma mulher: o pai, o amigo/irmão e finalmente seu companheiro.

Algumas mulheres tiveram no primeiro homem um pai tirano que não representava a lei, mas que acreditava ser a própria Lei. Fazendo-a e aplicando-a. Uma situação assim não estrutura saudavelmente a relação com o pai e pode resultar numa persona feminina equivocada.
Sem ter passado de forma saudável pela primeira figura ela vive mal até encontrar a terceira. Note que nenhuma figura substitui completamente a outra, se não Terezinha teria dado a mão para qualquer um dos três.
Resolvendo ou não o Lugar Paterno, mais tarde ao se tornar mãe ela pode agregar para si um quarto homem, em geral neuroticamente substitutivo: o filho. Ele passa a ser sua última aposta masculina. Freud diz que para uma mulher um filho é a desejada e verdadeira posse do falo. Equivocada, mas é.

O filho encontra a mãe chorando num canto da sala.
- Mãe o que aconteceu? Por que estás chorando?
- Por sua causa, você só me traz preocupações.
- Mas eu não sou obediente e amoroso com a senhora?
- Sim.
- Faço exercícios, me alimento bem, não falto ao trabalho, sou respeitado, honesto, ganho bem e namoro uma moça que a senhora aprovou.
- Sim é verdade.
- Então por que estás chorando?
- Isso não vai durar para sempre!
Mães judias, que delícia, eu também tive a minha.
Até aos 16 anos ela não abria mão de me calçar as meias, antes de eu calçar meus sapatos.



* a quem interessar possa: como a escrita japonesa é feita de símbolos únicos, não há palavras escritas que sirvam de suporte ao objeto e para dar um corpo específico ao inconsciente para que este tente recuperar o que a fala sacrificou ao gozo fálico, dos objetos. Ufa!