Globalização e o Balaio da Rosa

Esta globalização recente e que estamos vivendo - já houveram outras mais restritas no tempo e no espaço - tem aspectos interessantes na percepção e avaliação no longo prazo. 
No momento em que a maioria das economias do planeta se interligam, ou já se interligaram, começa a se formar entre elas uma situação de vasos comunicantes. O The Economist já tratava disso no começo dos 90’s.

Acontece aqui uma primeira grande ilusão: a de que os ricos continuarão com o mesmo padrão e a de que os pobres subirão o deles. O efeito de vasos comunicantes não é esse e desmente esta ilusão.
O efeito é na verdade seria o de nivelar os vasos envolvidos, onde então os ricos ficarão mais pobres e os pobres menos pobres, já que inicialmente não há bolo suficiente para dividir e para todos terem muito.
Como entre economias os movimentos são mais lentos e graduais agora é que se começa a notar essas conseqüências. Como "vasou" água para a Ásia, faltou água no vaso da América/Europa e este espaço vazio o mercado ajustou em preços ou com recessão.
Agora os preços na Ásia começam a subir. Como os dois movimentos não são exatamente simultâneos eles tendem a criar algumas ilusões.
O fato é que os custos totais - mão de obra, infra-estrutura e logística - começam a aumentar na Ásia e a diminuir na América/Europa por conta daquela outra leizinha da oferta e da procura, etc, etc.

Vasos comunicantes funcionam em duas vias é obvio.
Exportação de postos de trabalho e de infraestruturas para áreas mais baratas acabam por reduzir salários e custos de infra-estrutura do local exportador e a longo prazo tendem a trazer de volta alguns destes postos. Não todos certamente.
Os empregos voltam, mas voltam a aparecer com salários menores que serão então aceitos pela mão de obra que ficou temporariamente desempregada. O mesmo acontece com a infra-estrutura ociosa que também fica mais barata.
Além disso Estados desejosos de ter de volta empresas pagadoras de impostos e respectivos assalariados passam a oferecer incentivos fiscais. O clima econômico volta a ficar atraente nos países que exportaram seus capitais, perderam seus postos de trabalho e deixaram ociosas suas infra-estruturas.

O processo é dinâmico, funciona em ondas e é muito interessante.
O problema é que enquanto a Ásia ainda tiver zilhões de pessoas para integrar no mercado ela continuará a ter baixos salários. Isso pode atrasar tanto o processo de retorno que talvez ele chegue tarde demais para algumas economias recessivas.
Transferências ou retorno da produção requerem a construção ou a modernização de infra-estruturas que vão precisar competir com as que estão funcionado. O mercado pode ser brutal e selvagem, mas é terrivelmente “democrático” pois acaba levando a um nivelamento gradual de padrões, e no caso contemporâneo ele será global.

A ultima onda, seguinte a do refluxo é dialética. Como depois da tese vem a antítese, a terceira onda é uma síntese das duas anteriores. 
Esta síntese será um maior nivelamento econômico das nações participantes do processo de economia globalizado.
As grandes diferenças ficarão por conta da inovação tecnológica. Esta também sendo sempre rapidamente absorvida, copiada, licenciada ou obtida por engenharia reversa, este nome elegante para pirataria.

Em geral estes movimentos eram lentos, mas num mundo de extrema mobilidade física e de transferência instantânea de informação algumas ondas de mudança ficam quase em tap speed, aquele intervalo de tempo após apertar a tecla Enter.
Quase na velocidade da luz. O mercado financeiro que o diga.
Nossa época passou a acontecer na velocidade que leva "de avião o tempo de uma saudade" e nas asas da internet no “tempo que Rosa levava para equilibrar o balaio quando sentia que o balaio ia escorregar”. Não conheço melhor definição para a velocidade da luz.

Gil está falando dos reflexos de Rosa. O tempo deste reflexo é o tempo de uma sinapse cerebral, que sendo elétrica funciona na velocidade da luz. Nem Einstein que definiu a velocidade da luz explicou melhor.
Pobre Albert, o homem morreu sem nunca ter visto o balaio de Rosa balançar.