Márcia. Garota do Leblon.

Márcia. Conheci a Márcia no curso secundário. Tínhamos 16 anos. Eu estava me transferindo do Colégio Pedro II do Botafogo para o Colégio Rio de Janeiro em Ipanema, que ficava na mesma Rua Nascimento Silva onde eu morava. Ela estudava lá.

Quando entrei pela primeira vez na sala a primeira coisa que vi foi aquela menina. Quase da minha altura, um rosto bonito, um corpo lindo, de minisaia. Os hormônios ferveram. Ela morava no Leblon. Nas saídas da escola, que era próxima do Jardim de Alah, eu passei a acompanhá-la para casa. Conversávamos muito, mas nada além. Depois de algumas semanas antes de irmos para casa passávamos numa pizzaria e tomávamos umas Pepsis.

Apaixonamo-nos. Intensamente.
Nesta época um amigo de um primo, bem mais velho que eu, se tornou também meu amigo. O Mauro morava sozinho num apartamento enorme na esquina da Montenegro com a Nascimento, bem ao lado da Helô. Eu estava sempre por lá ouvindo a coleção de jazz dele. Ele trabalhava na TV Globo e passava o dia inteiro fora de casa. Ele conheceu a Márcia, notou nossa paixão e me ofereceu a chave do apartamento.

Márcia era muito bonita.
Quando fomos à praia pela primeira vez notei o problema que tinha nas mãos. Bronzeada, com um biquíni cenoura, todos literalmente no Leblon ficavam de olho nela. Na época havia a rivalidade dos garotos do Leblon com os de Ipanema o que às vezes não terminava muito bem. Propus que passássemos a ir à praia na minha praia. Não adiantou. Os garotos de Ipanema da minha turma não tiravam o olho dela. Resolvemos que cada um iria para sua própria praia e pronto.

Na época a Helô era objeto de desejo de todos, a música tinha explodido e Ipanema por todos os motivos estava na moda. Nesta época foi filmado o Garota de Ipanema com a Márcia Rodrigues, que estudava na nossa escola. Depois do sucesso nos cinemas nossa escola ficou conhecida como a escola das Márcias. Uma delas era a minha namorada.
A chave do apartamento do meu amigo, disponível, ali tão próximo, na mesma rua da escola, coçava no bolso. Aconteceu.
A partir daí não havia horário de recreio, aula vaga ou saída da escola que não aproveitássemos para ouvir jazz. Tínhamos os dois, aulas particulares de inglês. Começamos a faltá-las e falsificar a assinatura de presença. Preferíamos ir para o apartamento e treinar nosso Yes.

Depois casamos, tivemos dois filhos, separamos, casamos novamente, separamos novamente. Hoje somos muito amigos, dividimos generosamente nossos problemas, reclamamos dos filhos e de nossos respectivos namorados e namoradas.
Viramos dois irmãos. Não se rasga uma história de vida.