Gracias a la Vida. Deo Gratias. Dei Gratia.

Tive uma amante no sentido correto da palavra. Aquela a quem se ama. Como nenhuma outra. Como nenhuma antes. Como talvez nenhuma que possa a vir.

Fui apresentado a ela, e assim a conheci, numa cerimônia numa universidade. Um sorriso enorme, umas pernas magníficas chamaram imediatamente minha atenção. Mas ficou por aí.
Uma semana depois uma prima me diz que,
- Tenho uma amiga que quer lhe conhecer.
- Como assim? Acho que não conheço nenhuma amiga sua.
- Ela foi apresentada a você na Universidade, ela está sem namorado, quer lhe conhecer melhor , pediu para lhe dar o telefone dela.
Mais direto impossível.

Sábado à noite liguei para ela.
- Oi, sou o Ivan, minha prima me deu seu telefone. Também queria te conhecer.
- Estou com uns amigos em um bar. Venha para cá.
Fui. Cheguei no bar, encontrei-a numa mesa com uma turma enorme de amigos. Algumas pessoas eu já conhecia. Falei com todos, fiquei ao lado dela. Sentei na mesa, começamos a conversar. 
Durante nossa conversa ela se levantou muitas vezes para ir ao toilette. Cada vez que se levantava eu podia observa-la de corpo inteiro. Afinal essa era claramente a intenção dela ao se levantar tantas vezes.

Pele branca, um sorriso enorme, uns dentes perfeitos, tinha o corpo com as curvas generosas e provocantes de uma negra. Olhos amendoados como uma malaia, pernas longas como uma alemã. Uma mistura que só a miscigenação brasileira é capaz de produzir.
Tudo isso na mais absoluta harmonia que só muitas horas de academia e dieta rigorosa podem produzir. Elegante e altiva. Uma mulher magnífica.

Também era uma pessoa culta e instigante.
Psicanalista respeitada, reconhecida, líder da associação lacaniana local. Empresária, sócia de uma cadeia de lojas premium nos shoppings da cidade. Administradora competente de um importante hospital ela tinha sanado as finanças da instituição e imposto uma administração eficiente. Mestrada em Bioquímica na Inglaterra, formada em Nutrição no Brasil.
Excelente cozinheira, talvez a melhor que já conheci, vaidosa na cozinha. O ego enorme e impossível de conviver dos grandes Chefs. Uma pessoa fascinante.

Aos poucos descobri que ela também tinha uma família maravilhosa e um enorme círculo de amizades em que me integrei facilmente. Através dela conheci algumas das pessoas mais sérias, cultas e interessantes que já tive contato. 
Mas isso não era tudo, muito menos o mais importante. Uma enorme surpresa me esperava.
Naquela primeira noite conversamos muito no bar, nos entendemos perfeitamente. Havia um interesse mútuo, genuíno. Com o passar da noite os amigos da mesa foram indo embora, por fim ficamos só nós dois.
Quase ao fim da noite depois de muito conversar encerramos a conta, nos despedimos. Uma chama havia sido acesa.

Dia seguinte lhe telefonei, marcamos para nos vermos novamente. Nos encontramos à noite, conversamos muito. Depois com a intimidade que estávamos construindo nos beijamos. 
Inesperadamente. Ávidamente, com a urgência de amantes que se reconhecem. Os dois nos surpreendemos com o desejo que estava nos envolvendo.
Fim da noite nos despedimos com beijos e carinhos incendiários. Dia seguinte, próximo ao meio dia ela me telefona,
- Vamos almoçar?
- Sim, claro, excelente ideia.
- Então passo aí, te pego no trabalho, daqui a meia hora.
Meia hora depois ela me esperava embaixo do prédio onde eu trabalhava. Nos beijamos e fomos à procura de um restaurante para almoçar.

Ao meio do caminho ela lembra que,
- Preciso passar na minha casa para pegar uns documentos.
Fomos até lá, fiquei conhecendo a casa dela. Uma gracia, clean, cool, cute. Enquanto ela providenciava o que precisava fiquei discretamente na varanda da sala que tinha uma vista para um verde enorme.
De repente ela volta e me beija. Depois me diz que,
- Aqui na varanda os vizinhos podem nos ver.
Me levou para o quarto. Nos amamos como eu nunca antes tinha sido amado.

Ficamos juntos pelos quatro anos seguintes.
Exatamente como Shakespeare descreveu Cleópatra sua imensa diversidade no amor nunca se extinguia. O tempo passava mas não lhe fanava a beleza ao contrário lhe deixava mais desejável.
Seu corpo tinha dois graus a mais de temperatura e a qualquer momento estava pronta para o Amor.
E quanto mais alimentava meu desejo mais me despertava o apetite.
Pois como sabe Camões, pode um desejo imenso arder no peito tanto que à branda e a viva alma o fogo intenso lhe gaste as nódoas do terreno manto.